Fui viajar com a minha mãe para "território neutro"
pela primeira vez na minha vida.
Nós nos vemos com frequência, mas sempre em território conhecido:
a casa dela em Recife e a minha em São Paulo,
fora outros momentos idílicos em nosso paraíso,
mas ali não conta,
porque a paz reina solenemente...
Alugamos um apartamento em Paris em quatro mulheres:
minha mãe, tia, prima e eu.
Não podíamos ter ficado em lugar melhor,
o bairro era lindo, descolado,
com a maior diversidade por metro quadrado de Paris.
As pessoas alegres, leves, lindas e descontraídas,
fora a comida dos restaurantes judaicos, gregos, japoneses, indianos, árabes...
Enfim, pra quem é brasileiro, onde todo mundo tem sangue de preto, índio, europeu, judeu e árabe, estávamos no paraíso.
Tudo foi absolutamente perfeito, até o roubo que sofri no metrô,
Mas só fui entender isso depois...
Bateram a minha carteira em Paris...
Por uma questão óbvia: só andava a pé ou de metrô
e no Brasil, ando trancada em um carro...
Ali, eu não só estava exposta, como cuidando de minha mãe e tia, para que não caíssem, que não se perdessem, ou que não fossem roubadas...
Acabei me descuidando da bolsa num metrô lotado,
segurando as duas e quando cheguei em casa,
vi que estava sem carteira.
Podia ter segurado melhor a bolsa,
nem ter deixado ali documentos que eram brasileiros e desnecessários.
Aprendo que esse jeito confiante do qual sempre me orgulho, de que nada de mal vai acontecer porque se tudo é espelho, e eu não faço mal a ninguém, não roubo ninguém, nem engano ninguém, portanto nada de mal vai acontecer comigo...
Mas “existem muito mais coisas entre o céu e a terra do que pode conceber a nossa vã filosofia” e tudo que nos acontece é prasada, um presente de Deus que devemos saborear com amor.
Autocrítica: no momento que descobri o roubo,
fiquei nervosa, chorei e estressei quem estava do meu lado.
Sabedoria: respirar muito antes de reagir a algum ato inesperado...
Já aconteceu, ninguém se machucou, tudo vai se resolver...
Tudo isso eu compreendi minutos depois, mas houve o momento em que me identifiquei totalmente com o fato, a situação, a carteira, o dinheiro e os documentos, a chatice que vai ser fazer tudo de novo...
E perdi o controle dos meus atos, ou seja, fiquei nervosa.
E fui ajudada pela minha família, a qual eu deveria cuidar...
Ou seja, os papéis se invertem o tempo todo no amor,
e precisamos ter a humildade de pedir e aceitar ajuda quando precisamos.
Quando chegamos a Lisboa, pegamos os taxis que ficam na porta do aeroporto.
Como sempre, puxei assunto, falamos sobre história, contamos piadas, falamos de culinária, enfim, estava desarmada e entregue, querendo gostar da cidade...
O cara nos deixou no meio da rua, cheias de malas, dizendo que era proibido subir carro na ladeira super íngreme onde ficava o hotel, desligou o taxímetro e cobrou o dobro do que estava marcando o taxímetro.
Enfrentei, não paguei, mas me identifiquei novamente com a minha indignação e subi bufando as ladeiras até o hotel e descarreguei a raiva no porteiro que não tinha nada com isso...
Autocrítica: se estivesse calma, poderia ter anotado a placa do malandro, ter chamado a polícia e saber que aquele era um caso individual.
Não agi com discernimento. Agi pela emoção, movida pela indignação da grosseria de um malandro que certamente não era a maioria.
A má impressão durou algumas horas, e mais uma vez fui amparada e cuidada pela minha família...
Nada é pessoal. As pessoas dão o que elas podem dar naquele momento...
Não podemos esperar que as pessoas e os fatos sejam como a gente idealiza.
As coisas são como elas tem que ser, na medida exata, e tudo acontece para que aprendamos quem somos de fato quando tiramos todos os papéis que representamos.
Ainda e sempre terei muito a aprender...
Sei que estou no começo do caminho,
mas pelo menos, já dei os primeiros passos...
E quanto a ter perdido o controle da situação,
sei que me encaixo naquela categoria de yogis que praticam muito
porque precisam muuuuito praticar....
Namaste...