segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Tapas para dar sentido.

Tapas é um esforço que se faz para crescer espiritualmente.
Quando decidimos mudar, normalmente o primeiro obstáculo é largar hábitos que estavam condicionados.
Uma tarefa muito dura e que exige grande determinação, mas quando colocamos tapas,
ou seja, quando transformamos em um voto espiritual, nossas ações ganham mais sentido.
“Ir além dos limites impostos pela percepção limitada da realidade”.
Afinal, é para isso que praticamos yoga. Para enxergar além do que os olhos alcançam.
Para tomar as rédeas de nossas vidas. Para não mais deixar-nos levar ao acaso das situações e das emoções.
Para não mais sofrer.
“A vida é sofrimento”, dizia o Buda. Aquele que tinha tudo para permanecer no estado de ignorância e alienação que seu pai proporcionava, fechado entre quatro paredes de um castelo, feito sob medida para que ele não conhecesse a realidade.
Ao sair, descobriu que seu castelo era de areia e quis entender as dores do mundo, vivendo em extremo ascetismo,
em busca de uma maneira de acabar com o sofrimento de todos.
A origem do sofrimento é a ilusão.
Ilusão de sermos incompletos, finitos,
e tomarmos o mundo como nos é mostrado, como a única realidade.
Através do auto conhecimento que o yoga proporciona, compreendemos que somos apenas ignorantes .
Assim, o yoga tem a capacidade de nos des-iludir. Mostrar que estamos identificados com algo que não é.
Precisamos enxergar o que é...
Quando colocamos tapas em nossas vidas, estamos resgatando nosso infinito poder, e nos re-unindo com quem, de fato, somos.
Tapas revela a força que nem sabíamos que existia e nos enche de auto estima porque é a prova de que dominamos a vida e não o contrário.
Namaste...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Tudo é prasada...

Tudo é prasada, disse a professora de vedanta.
Tudo vem de Deus.
Esta afirmação abriu meus olhos e alma e entendi que tudo que fazemos é sagrado.
Assim, cada gesto, cada alimento, cada palavra adquire sentido.
Posso invocar Deus em tudo que fizer ou disser.
Isso muda a perspectiva de tudo.
Dá significado a tudo que faço.
Quando algo indesejável me acontece, devo receber como presente de Deus.
Sabemos que toda crise é uma oportunidade de crescimento.
Ao invés de sentir pena de mim achando que fui injustiçada,
posso aceitar alegremente o que me acontece, tentando extrair algum ensinamento disso.
E se tudo é dádiva divina, devo saber que o que me pertence por direito me será dado.
Não preciso criar expectativas porque sei que elas são fonte de frustrações,
pois expectativa significa esperar que alguma coisa aconteça de determinada maneira.
Não devo esperar nada.
Cada vez mais, aprendo que devemos simplesmente fazer o que deve ser feito, cumprir nossas obrigações,
porque é para isso que estamos aqui: para cumprir nosso dharma, nossa missão espiritual.
Não esqueçamos nunca: não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual.
Somos seres espirituais, tendo uma breve experiência como humanos...
Namaste...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Do your duty...

“Do your duty”, me disse um sadhu de Rishikesh. Cumpra o seu dever.
Se estamos encarnados em um corpo denso, é porque temos que agir!
Senão, seríamos pontos de luz, teríamos uma forma mais sutil...
Há uma meditação na qual reverenciamos tudo o que encontramos na natureza: as pedras, as árvores, animais,
pedindo desculpas pelo sofrimento que causamos a eles.
E temos causado danos demais a todas as espécies, inclusive a nossa...
É fato que o homem é o único animal que mata sem ser para saciar a fome...
mata por crueldade, por dinheiro, por sadismo...
Todas as noites, os jornais eletrônicos enchem nossas casas de tragédias e más notícias
causadas pela nossa própria espécie.
Não ficamos sabendo de baleias poluindo mares,
nem de ursos degelando geleiras,
muito menos de onças cortando árvores e incendiando florestas...
Obras exclusivas do bicho-homem.
Todos os direitos autorais reservados a eles, a nós.
Contrariamos, assim, o princípio do vedanta que diz que tudo é sagrado.
Tudo vem de Deus.
Assim, quem maltrata uma planta, um animal, uma pessoa,
está invalidando o sagrado que existe em si mesmo. Está invalidando o deus dentro de si...
Namaste...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Tudo é sagrado...

Na Índia, o cumprimento mais freqüente é Namaste, o deus que existe em mim reverencia o deus que existe em você.
Isto nos mostra o quanto o sagrado está incorporado na vida das pessoas.
Respeitar o outro é cultural, não obrigação.
Na nossa cultura de “vencedores”, não tem muito espaço para respeito.
As pessoas são homenageadas apenas quando estão para morrer ou depois de mortas.
Aquele que para no farol vermelho é babaca e o que dá passagem no trânsito é medroso.
Quem corrompe ou engana é eleito e quem desvia dinheiro não vai preso.
Agora, quem rouba comida para alimentar a família cumpre pena...
Na nossa cultura, roubo, propina e suborno são considerados crimes, dependendo da conveniência.
O sagrado é o que faz sucesso. E o que faz sucesso é o que vende.
E o que vende dá mais dinheiro. Logo, o sagrado é o dinheiro.
E por causa dele, florestas, rios, espécies inteiras estão desaparecendo. Nosso ar está acabando!!!
Milhões de pessoas já sofrem com a falta de água potável...
Outros milhões são refugiados de guerras que levam a lugar nenhum e matam cada vez mais pessoas!!!
E os que sobram, passam fome!
Onde foi parar o sagrado???
Se o sagrado não existe mais ou não é digno de respeito,
então, concluo tristemente que nós não existimos mais. Ou melhor, nossa cultura faliu!!!
Precisamos de outros paradigmas!
O paradigma do vedanta: TUDO È SAGRADO !
Namaste...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Todos os caminhos levam a meditação...

Quando canto mantras, sou instantaneamente tomada por uma onda de felicidade
e sinto, na pele, no coração que sou esta onda, que sou felicidade, paz e amor.
O mantra eleva o pensamento, abre o coração e comunga com os deuses.
Aliás, mantra deve ser a língua dos deuses.
Amma diz que, nesta era em que vivemos, Kali Yuga, as pessoas não conseguem ter a paz necessária para meditar,
por isso, devem cantar. Seus satsangs são permeados por música, deixando bem claro que é este o caminho mais curto
e direto para entrar em contato com o deus que existe dentro de nós.
Em seus bhajans, Amma diz aquilo que seu abraço personifica:
tudo é amor, viemos do amore a razão de viver é o amor.
Sat chit ananda, somos conciência divina, plenitude e bem aventurança.
O Yoga surge para nos lembrar quem realmente somos,
para tirar o véu da ignorância que não nos pernite ver que já somos o que queremos ser.
A meditação é uma das ferramentas para se atingir este “despertar” e os mantras, uma das ferramentas da meditação. Portanto, ao entoarmos mantras, estamos caminhando no sentido da meditação e neste caso, os meios justificam os fins...
Sinto-me inclinada a fazer meditações enquanto caminho, ou quando planto flores no meu jardim, ou mesmo quando pratico asanas livremente, despretenciosamente, sem querer chegar a lugar nenhum.
Apenas pelo prazer de estar ali, presente, viva...
Algumas vezes, enquanto faço sementes germinar ou multiplico as espécies que já tenho, ou enquanto rego as flores ou misturo a terra que germinará os vegetais que vou comer, consigo me desidentificar completamente do ego que sou e viro flor, viro manjericão e lavanda, viro terra, semente, derrubo a fronteira que me separa da natureza.
Derrubo as cercas que me impedem de ver que sou igual a tudo que existe fora de mim.
Mas ainda resisto muito a ficar totalmente imóvel. Não é o silêncio que me angustia, é a imobilidade...
Devo forçar-me a ficar imóvel, mesmo que minhas costas doam e eu não consiga parar de perceber esta dor,
até que ela vai tomando conta da minha mente ou devo continuar alegremente a entoar os mantras
que me dão tanta paz que até esqueço das dores do corpo?
Qual seria o caminho certo? Haveria caminho certo? Ou certo seria cada um cumprir seu dharma e sermos todos felizes?
Cada vez mais entendo que o que importa é dedicar um tempo para a contemplação, para a devoção...
Não importa como nem por quem. Importa saber que existe uma força muito maior regendo tudo e render-se diante dela...
Namaste...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Somos yoguis, não importa que estilo seguimos...

Sempre tive vergonha de cantar, até participar de um kirtan pela primeira vez.
Entoar os nomes de Deus dava sentido ao canto, não importaria a afinação, a correta pronúncia do sânscrito,
importava apenas a intenção.
E quem há de dizer que isso não é meditação?
É como se o coração derretesse em forma de lágrimas
que escorrem de felicidade
em deixar-se tomar pelo amor incondicional que estes cantos revelam.
Cantar os nomes sagrados equivale a mergulhar na profundidade dos sastras tentando comprender o sentido da vida.
O que difere é o meio. Um usa o intelecto e o outro, o coração. Mas ambos compartilham a entrega, a devoção.
Um é jnanin; outro é bhakta. Mas somos todos yoguis, não importa se cantamos para Krishna ou Shiva;
ou se seguimos este ou aquele mestre, desta ou daquela linhagem.
Importa que saiamos de nosso estado de adormecimento e despertemos.
Importa que nos desidentifiquemos de nossos inúmeros vrittis.
Há alguns paradoxos na maneira de nos relacionarmos com o yoga que não entendo...
Se yoga significa juntar, ligar, tornar-se um, como podemos dividi-lo em títulos por ordem alfabética como em uma enciclopédia? Por que criamos tantos rótulos que acabam por nos dividir em guetos?
O que era para tornar-se uma egrégora, corre o risco de virar torcida organizada de futebol.
Com direito a pancadaria verbal e moral. Tudo isso pra que?
Pra provar o que para quem?
Para ser o melhor? Mas se todo o esforço é no sentido da desidentificação, do desapego, no sentido da unidade,
do todo, do somos todos um...
Pra que ser o melhor?
Se for assim, o que estamos praticando não é yoga e sim, o último lançamento da indústria da moda, estrelado por Madona.
Quando estamos unidos pelo canto ou pelos estudos, desaparecem estilos do sul ou do norte, de fulano ou sicrano,
somos realmente um, uma só alma, uma só testemunha, um só ser...
Então, cantemos, amigos, na cama, no chuveiro, no mar ou na montanha, pois como diz o ditado:
quem mantra, os males espanta!
Que estejamos protegidos e unidos.
Que estejamos nutridos e unidos.
Que possamos trabalhar juntos pelo bem da humanidade.
Que o nosso saber seja realizador e luminoso.
Que nunca haja inimizade entre nós.
Que haja paz, paz, paz.
Namaste...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Os erros nos despem de arrogância...

Sofremos muito mais quando somos jovens porque ainda não entendemos que nada é definitivo,
muito menos nossas escolhas erradas. Os erros são o que nos move a fazer melhor da próxima vez...
Sem eles, seriamos como cópias piratas de um documentário produzido pelos nossos pais.
Devíamos agradecer aos tropeços que damos porque são eles que nos fazem parar para pensar,
porque nos despem de arrogância, porque nos fazem crescer.
Bom mesmo é aprender com os passos que vamos dando, cada vez menos trôpegos...
A idade tem destas gentilezas...
Aos vinte anos, vemos apenas nosso próprio umbigo;
aos trinta, o umbigo do parceiro, mas aos quarenta, percebemos que todos os umbigos são iguais.
Não queremos mais ser, nem muito menos, ter o umbigo do outro.
E passamos a encarar o vazio com respeito e admiração, deixando que ele se preencha ao acaso.
E isso é delicioso. Não mais planejar, não mais querer ser mais rápido que o tempo...
Apenas fazer o que tem que ser feito e esperar.
Deus mora nos intervalos...
Saber aceitar as transformações, inclusive físicas, e as limitações que o tempo trás.
Para o auto conhecimento, o tempo só conta a favor.
A idade vem para nos ensinar o que a juventude não quer ver:
que não somos nosso corpo.
Ao perceber isso, vemos que não somos diferentes do mendigo que pede um trocado
ou do cara na cadeira de rodas que vende chicletes na rua.
Todos nascemos, crescemos e morreremos...
E passamos a andar por aí de vidro aberto, trocando sorrisos, cumprimentos e dando passagem
a quem ainda tem pressa de chegar a algum lugar...
Namaste...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Felicidade não se vende em prateleiras...

Muitas vezes, andamos por aí, cegos pelos sentidos, correndo pelas ruas a procura da felicidade,
imaginando que ela está sempre fugindo de nós e que precisamos chegar antes
pra pegar lugar na sua fila...
Vejo tanta gente perdida, acreditando que a felicidade vai estar no último lançamento imobiliário,
automobilístico ou informático.
Tanta gente se matando de trabalhar para comprar a felicidade que nunca estará nas prateleiras.
Simplesmente porque se busca fora o que só existe lá dentro.
Nunca vão inventar uma tecnologia que forneça felicidade.
O que se pode sintetizar são comprimidos, proibidos e permitidos, que iludem ainda mais
e dão uma imensa ressaca quando o efeito passa.
Felicidade não vai vir de fora nunca...
Tanta gente com medo de envelhecer, porque velhice é vendida pela indústria cosmética
como falta de higiene, descuido, ignorância.
Tanta gente sofrendo em mesas cirúrgicas achando que vai ser mais feliz se tiver
umas gorduras a menos ou uns peitos a mais...
Tanta gente correndo riscos desnecessários em anestesias gerais, bisturis e UTIs infectadas...
Tanta propaganda enganosa levando pessoas a correr risco de vida...
E tanta gente enriquecendo às custas das ilusões alheias.
O que nos faz bonitos são as marcas das histórias que vivemos
e que forjaram quem somos.
Sem nossas rugas, seríamos um mapa sem países, livros sem palavras...
E muito melhor do que chegar em algum lugar é o caminho, os amigos que fizemos,
e, principalmente, as estradas erradas que tomamos
e nos permitiram conhecer lugares que não havíamos programado.
Namaste...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Tanta pressa pra chegar onde?

Muitas vezes somos movidos por atos insensatos, que não sabemos como nem de onde vem...
E corremos atrás de nosso próprio rabo, e praticamos atos que não queríamos, falamos coisas que não deveríamos
e ferimos pessoas que não poderíamos.
Enfim, somos como que tomados, possuídos pelas emoções.
Pobres de nós...Tantas vezes fora de nós...
Agindo pelo instinto, pela força da gravidade que nos puxa para baixo...
No trânsito o que mais vemos são pessoas agindo de forma completamente egoísta.
Fechados em seus vidros escuros, protegendo seus rostos da indignação dos outros,
tornam-se arrogantes e violentos.
Como se nada mais existisse além da caixa de ferro que os aliena de tudo e de todos.
A falta de solidariedade impera nas ruas da cidade.
Tanta pressa para chegar aonde, fazer o que???
Pressa que estressa por si só. Pressa que nos impede de olhar nos olhos, de sorrir, interagir...
Pressa que pode nos matar...
Estamos nos fechando cada vez mais em nossos pequenos guetos
e deixando escapar oportunidades de aprender com a diferença.
Estamos olhando demais para nossos umbigos numa corrida desenfreada para vencer...
mas vencer o que e de quem?
Precisamos entender que não importa onde vamos chegar, nem quando...
Nós já estamos onde queremos ir...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Da plenitude a plenitude

“Tirando-se a plenitude da plenitude, somente a plenitude resta”.
Esta é a maior prova de que a natureza nos contemplou com amor e plenitude em abundãncia.
Por causa dos sentidos, sofremos, e esquecemos que somos bem aventurança.
Caminhamos pela Terra envoltos pelo manto da ignorância e pela dor que ela nos causa.
Procuramos o yoga como uma forma de nos livrarmos desta dor, tomando as rédeas de nossas vidas
e caminhando em direção a uma luz que não sabemos onde fica, mas temos certeza que existe.
Quando compreendi que não era aquilo que aprendi a aceitar como eu, e sim, um Ser eterno, completo
e observador de tudo o que acontece sem perder o distanciamento entre aquilo que vivo e aquilo que sou,
pude, finalmente, entregar-me completamente, amadurecidamente a outro Ser.
Não era mais um “frankestein” composto por pedaços colocados juntos ao acaso,
movendo-me desengonçadamente em um corpo que não encaixa a procura de outro corpo que me completasse...
Mas um Ser que, em conformidade com o universo, aceita e respeita todos os movimentos como parte da existência.
Perceber a imensidão do Ser que posso vir a ser mudou toda a minha percepção de tempo e espaço.
Não mais a pressa de encontrar o santo graal... ele está dentro de mim, de nós...
Não mais querer, alcançar, conquistar e sim, ser...
Não mais a pressa e sim, a contemplação.
Porque tudo o que temos pressa pra conseguir, tudo o que desejamos,
já é, já está, já possuímos...

“Dentro do coração, em uma pequena cavidade, repousa o universo. Um fogo arde aí, irradiando em todas as direções.”
Mahanarayana Upanisad
Namaste...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O fio que nos une

Tudo nos leva a passar pela vida pulando de galho em galho como macacos na árvore das nossas emoções,
inquietos, famintos, e nem sabemos de que...
E deixamos de lado vocações e sonhos para cumprir papéis.
Tantos são os personagens que exercemos que esquecemos que esta vida é apenas uma parte de nossa imensa experiência espiritual. É apenas um dos muitos espetáculos de que participamos. E tudo na base da improvisação. Não há tempo de ensaiar para melhorar esta ou aquela cena, muito menos temos um diretor cuidando para que estejamos perfeitos na estréia. Temos que ser one man show em início de carreira: autores, produtores, diretores e intérpretes de nossas vidas. E ainda temos que saber cantar, dançar, representar e fazer malabares se for preciso...
E o yoga é o fio que nos guia, um farol que ilumina o oceano de nossas turbulências
e permite que encontremos o caminho de volta para casa, para nós mesmos...
A compaixão é a grande razão para estarmos no mundo, concordam todas as religiões.
Escolhemos experienciar a vida na terra para amarmos os outros seres e nos ajudarmos mutuamente.
Mais uma vez o fio... Porque tudo está ligado.
Assim como é no macrocosmo, é no microcosmo.
Se a natureza vive em perfeita harmonia, se rios e mares, ventos e chuvas, pedras e flores, sol e lua, convivem respeitosamente e se complementam, assim somos nós. Ou deveríamos ser, não tivéssemos cortado o fio que nos liga aos outros, tão envolvidos pela ignorância quanto nós, tão sedentos de felicidade como nós...
As vezes vejo gente morando na rua, em caixas de papelão e penso: onde está a minha dignidade se permito que outro igual a mim, perca a sua dignidade desta forma? Cada pessoa que morre de fome e frio, é uma parte de mim que morre junto...
Não podemos esquecer nunca do fio...
O fio da união... Yoga...
Namaste...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

entrevista

Entrevista comigo no site da Prana Yoga Journal
Tereza Freire
Professora de Yoga, locutora e historiadora conta os ensinamentos que a prática lhe proporcionou



Por Natália Dourado

EY: Quando ocorreu seu primeiro contato com o Yoga? Como aconteceu?

Comecei a praticar em 1999, na Competition, por curiosidade e com todos os preconceitos do mundo. Na primeira aula, eu já me rendi. Descobri que era isso que eu estava procurando e, como muitos ocidentais, fiquei seduzida pelo aspecto físico do Yoga. O espiritual veio depois. Acabei descobrindo um caminho sem volta.

Há quantos anos você pratica Yoga? E há quanto tempo você dá aula?

Pratico há 10 anos e dou aulas há 3. Fiz curso de formação com o Pedro Kupfer , pensando que seria apenas por diletantismo, mas fiquei tão fascinada que resolvi compartilhar o conhecimento que adquiri.

Quais as principais recomendações que você dá para seus alunos que desejam se aprofundar na prática?

Asana é apenas o caminho e não o fim. Yoga tem muito mais para oferecer. Faça cursos, retiros, estude e procure a companhia de quem pratica há mais tempo que você.

Sua formação é em Hatha Yoga e especialização em Sattva Yoga. O que te atraiu em cada estilo e o que aprendeu de mais relevante em cada um deles?

A formação do Pedro Kupfer é completa. Ali se aprende muito mais do que a parte física do Yoga. Com ele, entrei em contato com Vedanta e mudou totalmente o sentido da minha prática. Já o Sattva Yoga veio depois. Eu estava com problemas sérios nas costas e em um workshop com o Gustavo Ponte, fiquei encantada com a prática e fui ao Chile estudar com ele. Fiz também uma formação que considero fundamental com a Susan Andrews. Uma pessoa muito forte, apesar da aparência doce e frágil. Com ela, aprendi que Yoga é um caminho sem volta e que “There’s no free lunch”, ou seja, estamos nesta vida para trabalhar.

Quem são seus mestres? O que eles te ensinaram que você colocou em prática na sua vida?

Acho que ainda não devo estar pronta, pois o mestre ainda não apareceu. Respeito vários mestres, entre eles Amma e Swami Dayananda. Com Amma, tive uma epifania. Diante dela, senti o mundo se dissolver e isso é muito forte. Respeito todos os professores que tive porque foram eles que me ensinaram e me inspiraram neste caminho. E cada vez mais, percebo que o mestre é você mesmo porque os professores nos ajudam a tirar o véu da ignorância, mas o bom mestre quer que você siga o seu caminho.

De que maneira o Yoga transformou a sua vida?

Completamente! Tanto que me tornei professora. Porque senti na pele a força deste ensinamento e quis dividir com os outros por pura gratidão.

Você é historiadora, locutora e já aliou a prática de Yoga com seu trabalho quando escreveu e dirigiu o documentário Caminhos do Yoga, em parceria com a jornalista Daisy Rocha. Como foi essa experiência?

Este filme foi um presente que o Yoga me deu e só aconteceu graças a Daisy, que produziu e viabilizou todo o projeto. Eu estava começando a prática e essa imersão na cultura hindu me levou a lugares de mim mesma que eu nem sabia que existiam. Acho que isso aparece no filme. Não é um documentário de um expert e sim de uma aspirante, de alguém que olha sem julgar. Talvez essa seja a riqueza de Caminhos do Yoga.

Para fazer o documentário, você viajou para a Índia. Foi a primeira vez que você esteve nesse país? O que mais chamou sua atenção?

Foi a primeira vez que fui e ainda não voltei. Pretendemos fazer outro documentário no sul da Índia com a mesma equipe. O que me chamou a atenção foi o fato de a filosofia estar completamente integrada na cultura deles; não é algo distante e acadêmico como no ocidente. E as pessoas são o mais bonito retrato da Índia.

Há planos para unir produção de DVD e Yoga novamente? Você continua atuando como locutora também?

Fui convidada para fazer a locução do DVD da Prana Yoga Journal, o que me honrou muito, pois sou fã da revista e pela possibilidade de juntar os dois trabalhos que faço. E sim, continuo fazendo locuções; é um trabalho maravilhoso que não me toma muito tempo e me permite praticar e dar aulas. As locuções permitem que eu dê apenas uma aula por dia. Dou aulas na escola Satya Mandir Yoga.
Você dá aulas na Mata Atlântica, onde também cultiva alimentos orgânicos e ervas medicinais. Onde é o local e como são as aulas?
Casa Crudo, é este o espaço na Mata Atlântica que é um projeto de vida. Um lugar muito especial para onde vou todos os fins de semana. Cultivar os alimentos que como tornou-se uma prioridade e quero dividir este prazer com amigos e alunos. Lá, praticamos, fazemos caminhadas, colhemos o que vamos comer e preparamos juntos as refeições. No fim da tarde, fazemos massa de pizza e, à noite, acendemos o forno à lenha e abrimos um bom vinho porque ninguém é de ferro. Costumamos dizer que nossa alimentação é sem crueldade, porque o termo vegetariano ainda assusta muita gente, o que é uma pena.

Você acha imprescindível ser vegetariana para praticar Yoga?

Não acho que seja imprescindível ser vegetariano para praticar, mas se você se aprofundar, verá que não faz o menor sentido ser cúmplice de uma indústria suja e predadora. Parei de comer carne por convicção política e espiritual, mas tem pessoas que precisam comer carne por recomendação médica. Se fosse o meu caso, eu trocaria de médico.
Quais são seus próximos projetos?

Estou escrevendo um blog chamado Yoga na vida e quero transformar esta experiência em livro. Quero também fazer retiros, como o que farei no fim de setembro em Maresias e participar dos retiros dos amigos. E a curto prazo, participar do Sangam e ficar em Mariscal para o módulo três do curso do Pedro Kupfer. Além disso, agora que estou com estúdio de voz em casa, pretendo gravar livros de yoga para deficientes visuais e claro, estudar vedanta na Índia!

Para saber mais sobre Tereza Freire visite:

http://yoganavida.blogspot.com

www.satyamandiryoga.com.br

Yoga sutra

Yoga Sutra poderia ser traduzido, grosso modo, como “os fios da união”, uma vez que sutra significa fio e yoga, união...
E por que não? Se yoga é um caminho, uma trilha que vai de um lugar a outro, uma direção que escolhemos tomar,
uma maneira de agir, e, consequentemente, um destino, um dharma...
E este dharma busca re-unir o homem ao divino.
E ao conectar-se com o divino, ele percebe que é igual a este: eterno e completo.
Fio que conduz o homem pelo labirinto e salva-o dos minotauros da vida.
Fio que guia o homem de volta para casa...
Os minotauros seriam os nossos vrttis, padrões de comportamento repetitivos que insistimos em seguir
porque nos é mais confortável. Confortável porque conhecido.
Enquanto o conhecimento do Ser infinito que somos, pressupõe uma jornada em direção ao completo desconhecido.
Ao escuro. Pelo menos é o que pensamos...
No entanto, este que nos parece tão distante é quem realmente somos...
Mas tanto tempo passamos distantes que nem mais o reconhecemos.
Talvez seja esta a grande charada da vida. Desaprendemos tudo que sabíamos no momento em que nascemos,
para que, através da dor causada pela ignorância de nosso real estado de plenitude,
queiramos nos re-ligar ao divino que somos.
É aí que entra o yoga.
Namaste...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Sabia, mas não tinha olhos pra ver...

Muito mais perto do que imaginamos, pode estar nosso verdadeiro amor...
A beleza está sempre nas coisas mais simples, e normalmente não está embrulhada para presente.
Porque é real, não precisa de embalagem. O amor não precisa de provas e declarações para existir. Ele é em si.
Tudo está dito. Tudo em harmonia, fluindo como um rio em direção ao mar, seguindo o curso natural...
Assim é o amor.O resto é ilusão. Expectativas que despejamos nos outros em busca de algo que ninguém pode nos dar, egoísmo disfarçado de entrega, paixão disfarçada de amor...
Relações intensas de emoções e vazias de compaixão, que acabam por causar danos enormes na nossa alma.
Relações frágeis em sua essência porque fundadas no desejo, que um dia acaba, tão repentinamente quanto começou e não sobra nada, porque na paixão não há espaço para amizade, simplesmente porque não amamos o outro e sim, o que ele noz faz sentir.
Paixão é autofágica, alimenta-se de si mesmo.
Vemos apenas aquilo que nos é refletido, como na alegoria da caverna de Platão.
O mundo passa a ser a projeção daquilo que queremos ser e sentir.
A verdadeira luz que é inerente ao Ser não é refletida porque não há luz na caverna.
Com o tempo e sem as luzes que vem de fora, tudo fica escuro e a paixão, como as sombras, acabam e nada mais há para ser visto, para ser vivido. Podemos continuar na caverna, esperando que venha outra luz de fora ou sair, mesmo que a realidade fora da caverna ofusque nossos olhos.
É preciso maturidade para enxergar o amor... porque ele é dadivoso, realiza-se na felicidade do outro, nada quer para si, alimenta-se de dar. E quanto mais o tempo passa, ao contrário da paixão, mais o amor se fortalece.
Já me lancei de abismos de olhos vendados para provar o quanto gostava de alguém. Hoje não preciso mais provar nada. Ando com meus olhos bem abertos, e foi com eles que pude enxergar o amor que eu sabia que existia, mas ainda não tinha olhos para ver...
Namaste

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Somos plenitude...

Plenitude. Este é o estado do Ser que somos. Que deveríamos manter 24 horas por dia.
E só não mantemos porque nos embaraçamos nos devaneios do ego que pensamos que somos...
Claro que vivendo numa cidade como São Paulo parece utopia ter tempo para descobrir quem somos...
Mas a nossa inquietude permaneceria se estivéssemos no meio do mato plantando feijão.
Porque a ignorância do nosso real estado nos persegue, está enraizada em nós, faz parte da nossa essência.
E nos deixamos levar pela mente que não para...
A mente pode nos libertar e pode ser nossa maior inimiga...
A não ser que trabalhemos arduamente para mudar isto.
Mudar é trabalho duro porque desfaz tudo o que acreditávamos ser e ter.
Requer coragem. A gente se acostuma a ser de um jeito e prefere continuar assim a tentar algo desconhecido...
E vai morrendo aos poucos, perdendo o brilho, minguando...
Esquecendo que acordar todo dia é um milagre...
Esquecendo que a vida é jogo, brincadeira.
A única diferença entre nós e os iluminados é que eles entenderam isso.
Vêem a vida como um show que passa e não se envolvem com ela..
Tem um conto budista que diz que Deus estava cansado com tantos pedidos dos homens e queria se esconder. Perguntou a um monge para onde deveria ir e o sábio respondeu que ele deveria esconder-se no único lugar que os homens não o procurariam: dentro de seus corações.
Muito mais perto do que imaginamos está a genuína felicidade...
Namaste...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

As conexões ocultas

No livro que estou lendo, "As Conexões Ocultas", de Fritjof Capra, fala-se que, segundo o estudo WORLD HUNGER:TWELVE MITHS, a abundância e não a escassez, é a palavra que melhor descreve a produção de alimentos no mundo atual.
No decorrer dos ultimos 30 anos, o aumento da produção global de alimentos superou em 16% o aumento da população mundial. Estas estatísticas evidenciam a má fé da idéia de que os transgênicos são necessários para alimentar os famintos.
Diz ainda que as causas radicais da fome no mundo não tem relação alguma com a produção de alimentos.
As pessoas passam fome porque os meios de produção e distribuição de alimentos são controlados pelos ricos e poderosos.
Ou seja, a fome no mundo não é um problema técnico, mas político.
Como podemos lutar contra este estado de coisas?
Consumindo localmente apenas produtos com certificado orgânico.
Namaste...