terça-feira, 30 de junho de 2009
Shantaram: uma obra de arte!!!
Sabe aqueles livros que você fica economizando na leitura para não acabar logo? Aqueles livros que vc se prepara para ler, faz quase um ritual, senta-se na melhor poltrona, tira sapatos, traz o que for necessário para perto e reza para o telefone não tocar e ninguém chegar pra não estragar a sua leitura...
São 933 páginas, confesso que nunca li um livro tão longo e ainda mais, em inglês!!!
Fiz intercâmbio nos EUA quando era adolescente, voltei a morar lá outras tantas vezes, mas nunca aprendi tanto inglês quanto com este livro, porque é tão bem escrito que não dá pra deixar pra lá, ou tentar entender baseado no contexto.
Não, a gente faz questão de não perder uma vírgula, um sentido seguer, é preciosidade pura.
Grosso modo, conta a história de um cara, o autor, australiano, filósofo, revolucionário que acabou se viciando em heroína, virou traficante de drogas e acabou preso em seu país, torturado, mas conseguiu fugir para a India, onde passou a morar nos "slums", as favelas de Mumbai.
Não só a estória de sua vida é fantástica, mas o COMO ele escreve é tocante, surpreendente, emocionante. O resultado é um livro fascinante porque o autor tem um conhecimento tamanho da lingua inglesa que consegue transformar em poesia a dura vida do submundo.
Obviamente, o filme já está sendo rodado e terá Johnny Depp como protagonista.
Mas como todos sabemos, o filme não chegará aos pés do livro, portanto se você gosta de uma boa leitura, corra!!!
Este livro é imperdível!!!
Namaste...
segunda-feira, 29 de junho de 2009
objeto de desejo:livros!
A sabedoria, a gente aprende com os humildes". Cora Coralina
Vi uma entrevista com Ignacio de Loyola Brandão onde ele diz que o problema dos alunos não terem interesse pela leitura na escola é porque a literatura adotada não desperta nenhum interesse, é muito distante da realidade deles. Por que não adotar literatura contemporânea e ir retrocedendo no tempo? Por que obrigar alunos a ler machado de Assis, José de Alencar, Aluísio Azevedo, quando eles são adolescentes?
Quem de nós leu com prazer estes autores quando tinha essa idade? Ou melhor, quando adultos, quem de nós não se surpreendeu com a leitura aguçada que Machado faz da sociedade e que Graciliano Ramos faz do campo? Mas esta é uma literatura sofisticada. Precisa-se despertar o hábito primeiro, o gosto. Não sair jogando em programas curriculares de ensino médio só porque é assim que se tem feito desde sempre...
Por causa disto, desde sempre os alunos não gostam de literatura, nem de História na escola. Muitos de nós, se não aprendemos a gostar de ler com nossos pais, só fomos ler depois de adultos.
Tive a sorte de nascer em uma família onde os livros eram a visita mais frequente.
Desde então, eles, os livros, são meu maior objeto de desejo e minha companhia mais constante...
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Liberdade é caminhar...
Estou começando a concordar com meu professor que diz que a necessidade do carro é psicológica...
Estamos tão acostumados a dirigir que esquecemos que existem muitas outras formas de ir e vir...
Pode ser que daqui a uns dias eu volte a pensar que é impossível esta cidade a pé, mas por enquanto, estou considerando seriamente vender o carro quando sair do conserto!!!
Até emagreci nesta semana...
Fora a liberdade enorme de parar onde se quer, ver pessoas que acabam se tornando conhecidas, não ter zona azul, estacionamento, multa, aqueles engarrafamentos que dá vontade de largar o carro no meio da rua e sair andando...
Por incrível que pareça, meus dias renderam muito mais, fiquei mais seletiva sobre onde realmente preciso ir e as coisas que posso resolver por telefone ou e-mail. Verdade que a geladeira de casa está completamente vazia, deu preguiça de ir no supermercado a pé, mas é uma questão de ajuste, planejamento...
Sim, quando chove é um problema, ainda mais eu que nunca tive um guarda chuva...
Ontem fui dar aula no Satya Mandir, na Al. Franca, debaixo de chuva, certa de que as alunas iriam aproveitar a manhã chuvosa para dormir um pouco mais e a sala estaria vazia...
Tive a grata surpresa de dar uma deliciosa aula com trilha sonora original: chuva!
Aula de yoga é sempre uma surpresa, porque vc tem que se adequar as necessidades dos alunos. Você prepara uma aula de acordo com o dia, a temperatura, a estação, o seu estado de espírito e quando chega na sala, tem que mudar tudo de acordo com as necessidades das pessoas naquele momento e muitas vezes, não tem nada a ver com a aula que você preparou...
Por isso, acho complicado dar mais do que duas aulas por dia...
O paradoxo é: como sobreviver com apenas duas aulas ao dia???
Impossível. Só tendo outra fonte de renda...
Este é o dilema de todos os professores que conheço. Todo mundo gostaria de ter tempo para dar aulas, praticar, estudar, mas acaba sendo pego na armadilha da subsistência. E vejo professores maravilhosos tendo que dar cinco aulas por dia para poder pagar suas contas.
Pelo bem que o yoga faz para a vida de cada um e do planeta, professores de yoga deveriam ser pagos pelo estado, prefeitura, governo federal, para poderem dar suas aulas gratuitamente e com a qualidade que tenho certeza, todos gostariam...
Namaste...
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Silêncio é plenitude...
Ninguém para de pensar! Nem mesmo o Dalai Lama.
O que conseguimos com a meditação é a desidentificação com os conteúdos da mente, ou seja, os pensamentos vem,
mas você não se apega a eles. Deixa-os no seu lugar de pensamentos.
Meditar também não é visualizar. E´criar espaço na mente... só...
só quando você abre o espaço, o novo aparece...
Dizem que quando rezamos, Deus nos escuta. Mas quando meditamos, ele fala com a gente.
Meditar requer coragem! É muito mais fácil encher-se de estímulos: TV, internet, IPod, Iphone, ITunes, quanta coisa para nos levar para longe de nós mesmos.
Não estou criticando os maravilhosos gadgets atuais. Eles estão aí pra facilitar nossas vidas.
Mas nada se compara com a sensação de plenitude que alcançamos quando silenciamos...
Antes, eu morria de medo do que o silêncio iria me dizer...
Hoje eu aprendi que ele é plenitude e bem aventurança...
Experimente! Silencie e respire...só...
Namaste.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
prece hindu
que os governantes governem com justiça;
que todos os seres sejam felizes e livres do sofrimento.
Que a chuva venha no tempo certo;
que a terra seja fértil;
que o país esteja livre de agitação;
Que todos sejam prosperos
que todos tenham paz;
que todos tenham plenitude;
que todos estejam bem;
que todos sejam felizes;
que todos sejam saudáveis;
que todos vejam o bem;
que ninguem sofra.
terça-feira, 23 de junho de 2009
caminhando pela vida
Para os que não sabem, bati meu carro sexta feira (ver post abaixo)e a culpa foi minha, por isso me coloquei de castigo: enquanto o carro estiver no conserto(e vai demorar...), vou me locomover a pé ou de onibus, nada de taxi!!!
Por incrível que pareça, consegui ser mais pontual a pé do que de carro. Coisas de São Paulo...
Tive que gravar uma locução em Pinheiros, saí de casa uma hora antes e fui tranquilamente pelas ruas dos Jardins, olhando vitrines, ou melhor, museus, porque os preços são tão altos que parece museu: é só para olhar...
Gravei em 15 minutos (sim, locuções nos tomam muito pouco tempo, demora mais para cumprimentar o pessoal dos estudios do que para gravar) e fui caminhando para meu outro compromisso, no Masp, na Avenida Paulista.
Participei de uma leitura de teatro em um projeto maravilhoso e gratuito que acontece todas as segundas a noite no Masp, chamado Letras em Cena.
O melhor de andar a pé, além de fazer bem a saúde é poder ver as pessoas de fato, e não sob o ponto de vista da janela do carro, sempre fechada, claro, por medo dos assaltos e que nos dão uma certa arrogância de que somos melhores do que os outros, por isso podemos passar na frente, fechar o próximo, chegar primeiro, pra que???
A pé, cruzamos olhares, existe cumplicidade, respeito e solidariedade, totalmente diferente de quando estamos apostando corrida contra o tempo de dentro de nossos carros cada vez maiores e mais luxuosos...
Andar a pé, humaniza...
segunda-feira, 22 de junho de 2009
agradecimento
Dez da manhã, em plena Avenida Brasil, sem a pressa característica do trânsito de São Paulo.
Estava simplesmente desligada... Não estava presente no momento presente...
Minha intuição já tinha avisado que aquele era um dia para se ficar em casa... Não dei ouvidos.
Sempre me dou mal quando não escuto minha intuição.
Tenho a impressão de que a intuição é Deus, falando no ouvido da gente...
Dito e feito! Saí e bati!!!
Batida simples, um cara na sua frente decide parar no farol amarelo, você está distraída e bum! bate com tudo na traseira dele...
Arranjos feitos, volto para casa com o radiador do carro furado, rezando para conseguir estacionar na minha garagem...
Quando, enfim, relaxo, chega a hora da ressaca moral... Cobrança, culpa, arrependimento...
Antes que eu comece a me vitimizar, lembro que TUDO que nos acontece é sagrado! Tudo é para o nosso crescimento!
Então agradeço!
Agradeço ter machucado apenas o pulso e não ter ferido ninguém.
Agradeço os dias que ficarei sem carro e poderei caminhar pela cidade, olhando o céu, cantando mantras, sem preocupação com multa, trânsito, estacionamento e rodízio...
Agradeço mais esta lição e espero sinceramente ter aprendido com ela...
Do sagrado 1
Tudo vem de Deus.
Esta afirmação abriu meus olhos e alma e entendi que tudo que fazemos é sagrado. Assim, cada gesto, cada alimento, cada palavra adquire sentido. Posso invocar Deus em tudo que fizer ou disser. Isso muda a perspectiva de tudo. Dá significado a tudo que faço.
Quando algo indesejável me acontece, devo receber como presente de Deus. Sabemos que toda crise é uma oportunidade de crescimento. Ao invés de sentir pena de mim achando que fui injustiçada, posso aceitar resignadamente o que me acontece, tentando extrair algum ensinamento disso.
E se tudo é dádiva divina, devo saber que o que me pertence por direito me será dado. Não preciso criar expectativas porque sei que elas são fonte de frustrações, pois expectativa significa esperar que alguma coisa aconteça de determinada maneira.
Não devo esperar nada.
Cada vez mais, aprendo que devemos simplesmente fazer o que deve ser feito, cumprir nossas obrigações, porque é para isso que estamos aqui: para cumprir nosso dharma, nossa missão espiritual. Não esqueçamos nunca: não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais, tendo uma breve experiência como humanos...
Do sagrado 2
Há uma meditação na qual que reverenciamos tudo o que encontramos na natureza, as pedras, as árvores, animais, pedindo desculpas pelo sofrimento que causamos a eles.
É fato que o homem é o único animal que mata sem ser para saciar a fome... mata por crueldade, por dinheiro, por sadismo...
Todas as noites, os jornais eletrônicos enchem nossas casas de tragédias e más notícias causadas pela nossa própria espécie.
Não ficamos sabendo de baleias poluindo mares, nem de ursos degelando geleiras, muito menos de onças cortando árvores e incendiando florestas...
Obras exclusivas do bicho-homem.
Todos os direitos autorais reservados a eles, a nós.
Contrariamos, assim, este princípio do vedanta: tudo é sagrado.
Tudo vem de Deus. Assim, quem maltrata uma planta, um animal, uma pessoa, está invalidando o sagrado que existe em si mesmo. Está invalidando o deus dentro de si...
Na Índia, o cumprimento mais freqüente é Namaste, o deus que existe em mim reverencia o deus que existe em você. Isto nos mostra o quanto o sagrado está incorporado na vida das pessoas. Respeitar o outro é cultural, não obrigação.
Na nossa cultura de “vencedores”, não tem muito espaço para respeito. As pessoas são homenageadas apenas quando estão para morrer ou depois de mortas. Aquele que para no farol vermelho é babaca e o que dá passagem no trânsito é medroso. Quem corrompe ou engana é eleito e quem desvia dinheiro não vai preso. Agora, quem rouba comida para alimentar a família cumpre pena... Na nossa cultura, roubo, propina e suborno são considerados crimes, dependendo da conveniência.
O sagrado é o que faz sucesso. E o que faz sucesso é o que vende. E o que vende dá mais dinheiro. Logo, o sagrado é o dinheiro.
E por causa dele, florestas, rios, espécies inteiras estão desaparecendo. Nosso ar está acabando!!! Milhões de pessoas já sofrem com a falta de água potável...
Outros milhões são refugiados de guerras que levam a lugar nenhum e matam cada vez mais pessoas!!!
E os que sobram, passam fome!
Onde foi parar o sagrado??? Se o sagrado não existe mais ou não é digno de respeito, então, concluo tristemente que nós não existimos mais. Ou melhor, nossa cultura faliu!!!
Precisamos de outros paradigmas!
O paradigma do vedanta: TUDO È SAGRADO !
Namaste...
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Meditação
Esta meditação tem sete etapas:
- Reconhecer todos os seres sencientes como mães.
- Ficar atentos a bondade deles.
- Desenvolver a intenção de retribuir esta bondade.
- O amor
- A compaixão.
- A atitude incomum
- A intenção altruísta de se tornar iluminado.
Percebendo a bondade alheia, nasce na gente uma vontade de retribuir, e desse sentimento surge a compaixão, que é o desejo que o outro se liberte do sofrimento, e assim, podemos ir espalhando amor pelo mundo como as borboletas polinizam as flores...
Namaste.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Prece Budista
Que todos os seres sencientes sejam livres do sofrimento e das causas do sofrimento.
Que todos os seres sencientes tenham alegria e as causas da alegria.
Que todos os seres sencientes permaneçam em grande serenidade,
livres do apego e da aversão.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Amor
que o amor reserva para nós
Se tivéssemos a coragem
De nos fundirmos com ele?
Tudo aquilo que julgamos saber hoje
É apenas o começo
De outro saber que não tem fim.
E tudo que podemos realizar hoje
Nos parecerá derrisório
Quando os poderes da nossa natureza divina
Florescerem em glória e agirem através de nós".
Iqbal, místico sufi
terça-feira, 16 de junho de 2009
Estou meio outono...
Da amizade 1
Que os amigos eram a nossa verdadeira família, a que foi escolhida.
A que viemos, a família de sangue, seriam relações que teriam ficado por resolver, por isso laços tão fortes e indissolúveis.
Os amores seriam, assim como a família de origem, os samskaras que viemos transmutar. Relações não resolvidas, dívidas karmicas mesmo.
Mas amigos não...
Amigos seriam nossos irmãos de alma, nossos parceiros por afinidade sincera e gratuita...
Relações que chegavam como presentes por boas ações que tivéssemos cometido em outras vidas.
Amigos seriam mérito. Família seria missão!
E essa leveza deliciosamente sustentável das amizades seriam eternas...
Para mim, amigo sempre foi mais importante do que amor.
Aos amores, talvez eu entregasse minha voracidade, entregava os sentidos e exigia reciprocidade.
Aos amigos, eu dedicava a alma...
Amigo é relação construída, passo a passo, intimidade conquistada, confiança provada, silêncios e sumiços cordialmente respeitados.
Sabemos que quando um amigo querido some, é porque está bem e apaixonado. E tudo bem. Porque você sabe que dali a pouco ele volta cheio de alegrias e tristezas pra contar. E a gente vai receber com o mesmo carinho de sempre. Mesmo sabendo que assim que a dor passar, ele some de novo...
Faz parte da amizade esta liberdade de ir e vir. Pelo menos, assim eu pensava.
Que implícito na amizade estava um pacto de eternidade...
Perdi uma grande amiga num acidente de carro. Na última vez que nos vimos, ela me disse: a gente se vê quando eu voltar. E ela não voltou. E eu senti a maior dor da minha vida. E não fui me despedir no seu enterro, porque sabia que sua alma não estava mais lá. Apenas o corpo que a hospedava.
Até hoje me culpo, sei que ela teria gostado de saber que eu estava presente na festa que lhe fizeram, mas sei que esta amizade que permaneceu imaculada perdoaria todas as minhas faltas... Porque era amor de raiz, daquele que se realiza na felicidade do outro e que transcende qualquer formalidade.
Mas depois desta perda irreparável, perdi dois amigos que simplesmente não quiseram mais ser meus amigos e fizeram muita falta.
Aceitei, mas nunca compreendi.e a impermanência da vida fez com que o que era desconsolo, virasse resignação, memórias guardadas de um tempo que passou. No entanto, o amor permanece. Porque já sabemos que a vida é rio, tudo está passando o tempo todo e aceitar essa impermanência abre nosso coração para que nos vejamos no outro, estabelecendo assim a empatia e aceitação dos fatos da vida como presentes divinos. Portanto a falta que o amigo nos faz deve ser reconhecida e devemos crescer com essa dor.
Sabemos que rios deságuam no mar e se misturam no vasto oceano de possibilidades do vir a ser.
Então, o amigo que pode estar distante agora, daqui a pouco também chegará no mar e estaremos juntos, seremos o mesmo mar, experimentando formas diferentes de nos relacionar...
“A amizade atinge a sua irradiação total na maturidade da idade e do espírito.”
Montagne
Da amizade2
No caminho espiritual, encontramos muitos amigos. Pessoas que se irmanam em uma mesma busca e isso as torna mais próximas do que outras que conhecemos há muitos anos. Sempre me inquietou esta enorme familiaridade, essa sensação de “dejá vu” com pessoas que mal conhecemos. Só posso crer que este é apenas um re-encontro e que já éramos parte da mesma egrégora em outras vidas. Estes re-encontros vem carregados de impermanencia em sua própria natureza e assim, fica mais leve, sem cobranças, porque parece que sabemos que há uma “liga” maior que nos une. A liga do caminho espiritual, da busca de quem somos, da compreensão de que somos um e a vitória do outro também é nossa.
“Na amizade a que me refiro, as almas entrosam-se e se confundem em uma única alma, tão unidas uma a outra que não se distinguem, não se lhes percebendo sequer a linha de demarcação..” (Montagne)
Montagne escreve em seu lindo ensaio sobre a amizade, porque ele amava incondicionalmente seu amigo Etienne de La Boétie:
“Se insistirem para que eu diga porque o amava, sinto que não o saberia expressar senão respondendo: porque era ele... porque era eu”...
Aos amigos que encontro no caminho, dedico meu amor incondicional, porque ele sou eu, e porque eu sou ele...
Namaste.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Prece de Buda
Que eu possa cultivar uma bondade infinita em relação a todo mundo, desembaraçado e livre de má vontade e inimizade!!!
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Da insensatez
Enfim, somos como que tomados, possuídos pelas emoções. Pobres de nós... Tantas vezes fora de nós... Agindo pelo instinto, pela força da gravidade que nos puxa para baixo...
No trânsito o que mais vemos são pessoas agindo de forma completamente egoísta.
Fechados em seus vidros escuros, protegendo seus rostos da indignação dos outros, tornam-se arrogantes e violentos.
Como se nada mais existisse além da caixa de ferro que os aliena de tudo e de todos.
A falta de solidariedade impera nas ruas da cidade.
Tanta pressa para chegar aonde, fazer o que???
Pressa que estressa por si só. Pressa que nos impede de olhar nos olhos, de sorrir, interagir... Pressa que pode nos matar...
Estamos nos fechando cada vez mais em nossos pequenos guetos e deixando escapar oportunidades de aprender com a diferença.
Estamos olhando demais para nossos umbigos numa corrida desenfreada para vencer... mas vencer o que e de quem?
Precisamos entender que não importa onde vamos chegar, nem quando... Nós já estamos onde queremos ir...
Mas cegos pelos sentidos, corremos pelas ruas a procura da felicidade, imaginando que ela está sempre fugindo de nós e que precisamos chegar antes pra pegar lugar na sua fila...
Vejo tanta gente perdida, acreditando que a felicidade vai estar no último lançamento imobiliário, automobilístico ou informático.
Tanta gente se matando de trabalhar para comprar a felicidade que nunca estará nas prateleiras. Simplesmente porque se busca fora o que só existe lá dentro.
Nunca vão inventar uma tecnologia que forneça felicidade. O que se pode sintetizar são comprimidos, proibidos e permitidos, que iludem ainda mais e dão uma imensa ressaca quando o efeito passa.
Felicidade não vai vir de fora nunca...
Tanta gente com medo de envelhecer, porque velhice é vendida pela indústria cosmética como falta de higiene, descuido, ignorância.
Tanta gente sofrendo em mesas cirúrgicas achando que vai ser mais feliz se tiver umas gorduras a menos ou uns peitos a mais...
Tanta gente correndo riscos desnecessários em anestesias gerais, bisturis e UTIs infectadas...
Tanta propaganda enganosa levando pessoas a correr risco de vida... E tanta gente enriquecendo às custas das ilusões alheias.
O que nos faz bonitos são as marcas das histórias que vivemos e que forjaram quem somos.
Sem nossas rugas, seríamos um mapa sem países, livros sem palavras...
E muito melhor do que chegar em algum lugar é o caminho, os amigos que fizemos, e, principalmente, as estradas erradas que tomamos e nos permitiram conhecer lugares que não havíamos programado.
Devíamos agradecer aos tropeços que damos porque são eles que nos fazem parar para pensar, porque nos despem de arrogância, porque nos fazem crescer.
Bom mesmo é aprender com os passos que vamos dando, cada vez menos trôpegos... A idade tem destas gentilezas...
Aos vinte anos, vemos apenas nosso próprio umbigo; aos trinta, o umbigo do parceiro, mas aos quarenta, percebemos que todos os umbigos são iguais. Não queremos mais ser nem muito menos, ter o umbigo do outro.
E passamos a encarar o vazio com respeito e admiração, deixando que ele se preencha ao acaso. E isso é delicioso. Não mais arquitetar, não mais querer ser mais rápido que o tempo. Apenas fazer o que tem que ser feito e esperar. Não de forma indulgente, “com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”, mas sabendo aceitar as transformações, inclusive físicas, e as limitações que o tempo nos trás. Para o auto conhecimento, o tempo só conta a favor.
A idade vem para nos ensinar o que a juventude não quer ver:
que não somos nosso corpo.
Ao perceber isso, vemos que não somos diferentes do mendigo que pede um trocado ou do cara na cadeira de rodas que vende chicletes na rua. E passamos a andar por aí de vidro aberto, trocando sorrisos, cumprimentos e dando passagem a quem ainda tem pressa de chegar a algum lugar...
Namaste...
Do vegetarianismo
Parar de comer carne não apenas por compaixão ou por seguir os princípios da não violência numa conduta espiritual.
Mas por convicção político-filosófica-econômica.
Porque não posso ser parte de uma rede que vende tortura e morte em forma de filet mignon. Não posso compactuar com uma indústria que sobrevive às custas do sangue alheio. E na pior das hipóteses, caso eu não pensasse na violência contida no meu ato, não poderia comer um alimento que, para chegar mais rápido ao mercado,
é bombardeado com medicamentos que causarão, por sua vez, a morte de quem consumir. Porque é dado tanto antibiótico ao animal para que ele produza mais rápido e macio, que certamente esta quantidade bestial remédios vai interferir na saúde de quem comer seu churrasquinho de fim de semana...
Como diz o Dalai Lama, seja generoso nem que seja por egoísmo...
Não faça aos outros o que não gostaria que te fizessem...
Digo sempre a meus amigos que se não estiverem dispostos a abandonar este hábito, melhor não ver o filme. Porque é impossível não tomar uma atitude. Nem que seja de diminuir o consumo.
Já é alguma coisa. Como me disse um amigo, “vou comer apenas três vezes por semana”... Se para ele já é um sacrifício, tapas, então está valendo. Mas gostaria mesmo era de ter dito a ele que ia acabar ficando doente mesmo comendo carne apenas três dias por semana.
O filme mostra a crueldade em série que é a indústria dos animais.
Baby beef, carne tão apreciada e tão cara, é um filhote que nem tem direito de aprender a andar, para não endurecer sua carne.
É criado preso, num cubículo, desde que nasce e só tem direito a meses de vida ( que vida?)...
Vaca é sugada até o bagaço, literalmente. Aparelhos sugam suas tetas noite e dia e se o leite acaba, hormônios garantem a fabricação de mais e mais.
Com as aves, é ainda pior.
Pinto é jogado no lixo como guardanapo usado, não presta pra nada. Os que nascem com defeito, e óbvio que muitos nascem por causa dos hormônios, são jogados e triturados como lixo. Provavelmente, viram os nuggets que compramos prontos no supermercado. Os que sobrevivem, parecem aberrações, pois não tem pernas, são apenas peito e tem seus bicos cortados para não comerem uns aos outro.
Os frangos de hoje viraram carnívoros!!!
Não bastasse esta violência, saber que os grãos que alimentam o gado poderiam acabar com a fome do mundo e que as florestas estão sendo devastadas para fazer pasto!!! Matam a natureza pra colocar o gado que também será morto e que não matará a fome de quem precisa porque nem chegará na mesa porque nem mesa eles tem, muito menos dinheiro pra comprar bife...
Tiram a floresta e colocam grama. Tiram gente e colocam gado. Hoje em dia existem mais cabeças de gado do que seres humanos na Amazônia...
Nada contra os bois, tudo a favor das vacas sagradas que são, mas derrubar florestas em época de aquecimento, secas, é no mínimo, burrice. Estupidez a longo prazo...
Sabemos que a urina do gado é responsável pela contaminação dos lençóis freáticos e os gases que eles liberam poluem mais do que muitos automóveis...
Não terão famílias as pessoas que enriquecem às custas de vidas alheias? Não pensarão nos seus descendentes, vivendo numa terra devastada???
Mesmo que seja por egoísmo, seja generoso...
mais uma vez, Dalai lama...
A toda ação corresponde uma reação de mesma intensidade.
Causa e efeito.
No entanto, segundo a lei, animal é propriedade, assim como casas, automóveis. O proprietário tem direito de fazer o que quiser com eles.
No entanto, se nos assemelhamos aos animais em alguma coisa é na capacidade de sofrer.
Interessante... Tantas pessoas amam seus bichos de estimação como gente e permite que os que não são de estimação, morram cruelmente... e ainda comem estes mesmos bichinhos que poderiam ser os seus pobres pets...
Porque é apenas uma questão cultural comer picanha ou carne de cachorro... Tortura-se animais simplesmente para satisfazer o nosso gosto porque está mais do que provado que não precisamos de carne para sobreviver. Pelo contrário, qualquer nutricionista consciente desaconselharia ou pediria moderação no consumo.
A decisão é de cada um. Não se pode obrigar ninguém a nada, mas pelo menos, se for consumir carne, opte por um consumo consciente, escolha as de procedência orgânica e não violenta. Pelo menos, estará comendo um animal criado solto e livre dos hormônios e da violência implícita numa criação em grande escala unicamente para fins de enriquecer o produtor.
Acredito, cada vez mais, que as próximas revoluções não freqüentarão debates nem passeatas, muito menos empunharão armas. Ao contrário, serão pacíficas e silenciosas, movidas pela compaixão. Silenciosamente, podemos fazer nosso protesto.
E o protesto que eles, os produtores ouvirão é não consumir seus produtos. Não manchar nossas mãos de violência contra seres que, ao contrário de nós, não possuem o livre arbítrio. O discernimento para agir conscientemente pelo bem de todos.
Namaste...
Mantra para o alimento
Brahmagnau Brahmanahutam
Brahmaiva Tenagantavyam
Brahmakarma Samadhinam.
Om.
Que a prosperidade seja glorificada.
Que os governantes governem com virtude e justiça.
Que a divindade e a erudição sejam protegidas.
Que todos os seres do mundo sejam felizes e prosperos.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Caminhos do Yoga 1
a mente
yoga na vida
justiça
quarta-feira, 3 de junho de 2009
somos mar
empatis
sadhana
terça-feira, 2 de junho de 2009
Prece
segunda-feira, 1 de junho de 2009
sentidos da vida
O ego e os asanas
Foi preciso que eu pegasse uma conjuntivite que me obrigou a parar temporariamente com os asanas para eu aprofundar a minha prática de meditação...
Praticar ashtanga é paradoxal. Ao mesmo tempo que fortalece o corpo, e consequentemente o ego, ela também te coloca no devido lugar quando o ego começa a soltar suas asinhas.
Afinal, praticamos yoga para dominar este pequeno monstro que habita em todos nós. Mais um paradoxo: é pequeno e é monstro... Pequeno, se pensarmos na imensidão do Ser, e monstro porque exerce um poder imensurável em nossas vidas.
É preciso tomar muito cuidado para a prática de ashtanga não virar “ashtego”.
Ela parece ter sido sistematizada para nos testar.Quem pratica seriamente, seis dias por semana, inevitavelmente fica com um corpo forte, saudável e vigoroso.
Mas se este for o fim e não um meio para se chegar num outro patamar, invariavelmente a gente acaba se machucando, porque vai querer fazer asanas cada vez mais complicados, porque o ego quer sempre mais...
Praticamos asanas para atingirmos o estado de meditação.
Na Índia, muitos praticantes já nem precisam de asanas.
Na sua cultura, as pessoas tem o costume de sentar no chão e não em cadeiras. Qualquer um senta em padmasana.
No ocidente, crescemos em cadeiras, não temos o corpo preparado para meditar. Precisamos de asanas.
É uma prática sedutora, que nos instiga a buscar a perfeição e a harmonia e nos desafia, por conter séries com graus de dificuldade diversos. Portanto, é preciso esforço e perseverança para avançar nas séries. Penso que para pessoas ativas e com dificuldade de manter a concentração e disciplina, pode ser uma prática indicada. Tenho amigos que não se interessam pelo lado filosófico ou espiritual do yoga e praticam ashtanga todos os dias da semana. Gostam do fato de ser uma prática vigorosa e que produz bem estar e emagrece. E só. Pelo menos, é um começo, penso. Com o tempo, a pessoa verá que está desperdiçando o melhor que o yoga pode oferecer, que é o auto conhecimento. Que o bem estar é só o começo de um caminho sem volta. E o contato com os professores e mestres abrirão as portas para esta viagem.
Mas descubro que muitas vezes a prática de ashtanga acentua o narcisismo e torna-se um fim em si mesmo. Descontextualizamos sua origem, criamos métodos, enfeitamos com luzes, música e figurinos e o que deveria ser uma prática meditativa vira show de talentos. O bom ashtangi passa a ser o bom “assaneiro”.
Falo com conhecimento de causa porque isso aconteceu comigo.
Deslumbrei-me com a prática e desrespeitei meu corpo a ponto de pegar uma conjuntivite que me proibiu por duas semanas de fazer qualquer postura em que minha cabeça ficasse abaixo do coração.
Tive que interromper a prática.
Descobri que tinha medo de meditar!!! Tinha me acostumado a fazer um mantra no começo, meditar em movimento, respirar nos asanas e finalizar com mais um mantra.
Quando me peguei impossibilitada de sair de casa, resolvi encarar: meu corpo me dizia que precisava descansar. Não tinha como fugir da meditação.
YOGAS CHITTA VRTTI NIRODHAH.
Fechei os olhos e esperei... Vontade de me mexer, de cantar, de me alongar, de rezar, todos os pensamentos do mundo reunidos numa só mente. Fiz pranayamas, visualizações, usei todos os vrittis que conhecia para acalmar os vrttis de minha chitta...
Decidi só levantar quando acalmasse meu vrttis. Surgiu mais um: a dor nas costas. Cedi, levantei frustrada, mas com a sensação de ter tentado. Descobri que meditar exige tanta disciplina quanto praticar asanas, ou quanto qualquer coisa que se quer fazer bem. Requer dedicação. No dia seguinte, tentei de novo, no outro também, e a cada dia sentia que o esforço trazia resultados.
Um dia, quando menos esperava, senti que tudo se encaixava, que eu me sentia plena, que naquele momento, não havia nada mais que eu desejasse, que eu poderia até morrer fisicamente porque tudo estava em paz.
Não sei quanto tempo durou, sei que voltei atraída por um som qualquer. Nem que tenha sido apenas um segundo, foi um dos mais intensos de toda minha vida. O vazio fez um eco no meu coração.
Talvez isto seja “chitta vrtti nirodhah”...
Totalmente recuperada dos olhos, voltei a minha prática diária de ashtanga. No entanto, de uma forma diferente. Mais generosa e tolerante com meus limites e, principalmente, com os limites dos outros.
Precisei ficar doente dos olhos para conseguir enxergar com a alma...
Namaste...
A devoção
No vôo de volta ao Brasil, saí do lugar onde estava sentada para sentar-me em outra fila mais vazia e, portanto, mais confortável. Ao meu lado, sentou-se uma brasileira com quem, após poucos minutos de conversa, tive uma grande identificação. Ela estava voltando do ashram da Amma. Detalhe: eu estava no norte da Índia, gravando um documentário no Himalaia e ela, no estado de Kerala, sul, participando das comemorações. Nosso encontro foi no vôo que partia de Mumbai para o Brasil, via Johannesburgo.
De cara, ela me mostrou uma foto da Amma e fiquei muito tocada. Enquanto ela ia contando da festa, lágrimas vertiam dos meus olhos sem parar. Aliás, durante todo o tempo que passei na Índia, chorava diariamente, emocionada com os pujas e com os ensinamentos dos mestres que entrevistamos. Nunca entendi o porque de tantas lágrimas, apenas respeitei o que sentia e deixei-me tomar pelas emoções. Talvez fosse uma sensação de re-conhecimento; talvez por descobrir novos sentidos para a vida; talvez porque descobri o amor universal, a compaixão.
Enfim, muitas coisas foram transformadas durante aquela viagem.
Passamos a vôo inteiro trocando experiências sobre a Índia, ela me deu fotos, incensos e até um rudraksha abençoado pela Mãe e nos despedimos na chegada ao Brasil, depois de termos trocado e-mails.
Dias depois, ela me convidou para um satsang que os devotos da Amma realizam todos os sábados. Apesar de ser o primeiro contato, senti-me acolhida por uma família espiritual. Meditamos, cantamos mantras e na hora do arati, eles me colocaram para segurar o fogo sagrado. Mais uma vez, senti lágrimas desabarem dos meus olhos como cachoeira...
Era como se naquele momento, ela estivesse ao nosso lado, e o amor tomasse conta de todas as esferas, de todas as pessoas, como se eu fosse derreter de tanto amor. Um estado de plenitude que eu queria conservar para sempre e levar a todos os lugares que fosse.
Desde então, passei a ter uma foto da Amma no meu altar e fazer, todas as manhãs, a meditação ensinada por ela aos seus devotos. Carregava sua foto na carteira e sempre que tinha alguma dificuldade, fechava os olhos e imaginava que estava recebendo seu abraço, como um filho deitado no colo de sua mãe para buscar conforto.
Em julho de 2005, meu pai sofreu um sério acidente de carro. Além de fraturar a tíbia, quebrou doze costelas e teve o pulmão perfurado. Diagnóstico: embolia pulmonar seguida de infecção hospitalar. Ficou duas semanas em coma na UTI de um hospital em Brasília, onde ele mora com a esposa e meus dois meio-irmãos. Um deles estava junto no acidente e dormia no banco do passageiro. Tenho certeza que meu pai quebrou as costelas usando toda a força que tinha para proteger meu irmão e esquecendo de se proteger. Amor de pai, instinto.
Meu irmão sofreu algumas escoriações e foi logo liberado. Maior que tudo foi o trauma de ver seu pai preso nas ferragens de um carro que teve perda total.
Fiquei monitorando tudo daqui, decidida a não sair de casa, não parar de rezar enquanto meu pai não melhorasse.
Quando a infecção tomou conta, fui chamada a Brasília para me despedir do meu pai. Foi quando, desesperada, rezei a Amma para que fosse até lá, para que pegasse meu pai pelos braços e o curasse, para que acabasse com o sofrimento dele, para que o guiasse, se fosse o caso de ele deixar este corpo. Senti a força da fé quando entreguei a vida de meu pai a Deus, e senti verdadeiramente que aceitaria qual fosse a sua vontade. Eu me rendi. Deixei o apego de lado e pedi para que fosse feito o melhor para ele. Que eu aceitaria a sua partida com respeito e devoção. Que eu seria forte, pois sabia que esta vida é uma passagem mesmo, nosso corpo é apenas um envoltório, mas o Ser é imortal, Ele sempre vai existir.
“ O Ser não nasce nem morre. Nem pode deixar de existir. Inato, imortal, sem princípio nem fim, não perece quando morre o corpo. Tudo que nasce tem infalivelmente que morrer, tudo que morre tem que renascer. Não há como evitar.” Palavras do Bhagavad Gita que me aqueceram a alma e me deram coragem para enfrentar o vôo até Brasília e a UTI .
No caminho, tomei a decisão de não chorar, precisava ser forte para cuidar dos meus irmãos e da esposa do meu pai, que estavam desesperados.
Quando pisei naquele hospital senti uma força tamanha que sabia que ele ia ficar bem. Fui para tirá-lo de lá. Entrei na UTI pisando forte, meu pai disse que eu parecia um cavaleiro medieval, armado até os dentes, pronto para defender seu feudo.
Não sei o que me deu, mas ver quem sempre tive como um super herói, infalível em sua força, deitado numa maca e ligado a tantos aparelhos que não havia uma veia, um pedaço dele que não estivesse funcionando artificialmente... foi uma das visões mais tristes que tive.
No entanto, a fé e o amor, faziam com que toda aquela agonia sumisse, e aquele horrível leito de hospital se transformasse em um campo de batalha da vida contra a morte, onde nós dois, armas na mão, força e coragem iríamos vencer juntos.
Choramos sem chorar, e eu disse a ele que tinha mandado uma santa vir em seu auxílio e ele prontamente me descreveu a Amma. Falou de seu sorriso, de suas vestes brancas, de seu abraço de mãe. Muito confiante, despedi-me do meu pai e na hora marcada, fui ao encontro do médico.
Muito surpreso, o médico que havia me chamado para ver meu pai pela última vez, disse que seu estado havia se alterado quase que por milagre e que, desobedecendo as regras do hospital, ia transferi-lo para um quarto naquele mesmo sábado à tarde.Não havia mais sentido ele ficar na UTI.
De volta ao quarto e à vida, meu pai teve uma recuperação assustadora para os padrões clínicos. Em uma semana, teve alta e voltou para casa, depois de fazer uma cirurgia na tíbia onde teve que colocar cinco pinos. Os médicos falaram que eram grandes as chances de ele ficar mancando, devido a sua idade, 65 anos.
Três meses depois, ele já caminhava sem muletas e depois de uns seis meses, já jogava futebol com meus irmãos. Nenhuma seqüela.
Os médicos disseram que ele deveria se batizar novamente com o nome de Renato, renascido. Para a ciência, o que aconteceu foi inexplicável.
Para nós, a certeza de que ele foi salvo pelo amor e pela fé.
Desde então, carregamos todos uma foto da Amma na carteira e é com ela que contamos nos momentos em que precisamos de ajuda e proteção.
Namaste...
Da sorte de um amor tranquilo....
“Eu quero a sorte de um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida...”
Sempre disse que esta música de Cazuza era meu hino... Talvez porque sempre estive envolvida em relações complicadas, passionais, egoístas e intensas...
Desde a adolescência, tive vocação para casos complicados...
E achava que amor era isso. Sofrimento, lágrimas, despedidas...
Isso que eu sentia e sentiam por mim era, na verdade, projeção.
Éramos seres ignorantes e perdidos na ilusão de sermos o nome que nos chamaram, ou a profissão que escolhemos, o amor de outra pessoa, ou pai de alguém, mas e o Ser?
Quem eu sou realmente?
Não sei. Mas pelo menos agora compreendo o real estado de plenitude do Ser. Sei onde posso encontrá-lo.
Em coisas simples como um mar morno e transparente, um por do sol ou um arco-íris visto inesperadamente, ou mesmo fazendo amor com quem amamos, fragmentos no tempo que nos trazem uma alegria, uma paz...
Plenitude. Este é o estado do Ser que somos. Que deveríamos manter 24 horas por dia.
E só não mantemos porque nos embaraçamos nos devaneios do ego que pensamos que somos...
Claro que vivendo numa cidade como São Paulo parece utopia ter tempo para encontrar o verdadeiro Ser... Mas a nossa inquietude permaneceria se estivéssemos no meio do mato plantando feijão. Porque a ignorância do nosso real estado nos persegue, está enraizada em nós, faz parte da nossa essência. E nos deixamos levar pela mente que não para...
A não ser que trabalhemos arduamente para mudar isto. Cada um do seu jeito, mas as ferramentas existem. No entanto, é trabalho duro porque desfaz tudo o que acreditávamos ser e ter. Requer coragem.
Tem um conto budista que diz que Deus estava cansado com tantos pedidos dos homens e queria se esconder. Perguntou a um monge para onde deveria ir e o sábio respondeu que ele deveria se esconder no único lugar que os homens não o procurariam: dentro de seus corações.
Muito mais perto do que imaginamos está a genuína felicidade, assim como pode estar nosso verdadeiro amor. A beleza está sempre nas coisas mais simples, e normalmente não está embrulhada para presente. Porque é real, não precisa de adornos. O amor não precisa de provas e declarações para existir. Ele é em si. Tudo está dito. Tudo em harmonia, fluindo como um rio em direção ao mar, seguindo o curso natural...
Assim é o amor.O resto é ilusão. Expectativas que despejamos nos outros em busca de algo que ninguém pode nos dar, egoísmo disfarçado de entrega, paixão disfarçada de amor... Relações intensas de emoções e vazias de compaixão, que acabam por causar danos enormes na nossa alma.
Relações frágeis em sua essência porque fundadas no desejo, que um dia acaba, tão repentinamente quanto começou e não sobra nada, porque na paixão não há espaço para amizade, simplesmente porque não amamos o outro e sim, o que ele noz faz sentir.
Paixão é autofágica, alimenta-se de si mesmo.
Vemos apenas aquilo que nos é refletido, como na alegoria da caverna de Platão. O mundo passa a ser a projeção daquilo que queremos ser e sentir.
A verdadeira luz que é inerente ao Ser não é refletida porque não há luz na caverna. Com o tempo, sem as luzes que vem de fora, tudo fica escuro e a paixão, como as sombras, acabam e nada mais há para ser visto, para ser vivido. Podemos continuar na caverna, esperando que venha outra luz de fora ou saímos, mesmo que a realidade fora da caverna ofusque nossos olhos.
É preciso maturidade para enxergar o amor... porque ele é dadivoso, realiza-se na felicidade do outro, nada quer para si, alimenta-se de dar. E quanto mais o tempo passa, ao contrário da paixão, mais o amor se fortalece.
Já me lancei de abismos de olhos vendados para provar o quanto gostava de alguém. Hoje não preciso mais provar nada. Ando com meus olhos bem abertos, e foi com eles que pude enxergar o amor que eu sabia que existia, mas ainda não tinha olhos para ver...
Namaste...
Do desapego
Desde que resolvi me aprofundar na prática do yoga, sinto que venho me desapegando de hábitos, lugares, pessoas, coisas que faziam parte da minha vida. Ou talvez este distanciamento já vinha acontecendo e foi por causa disto que senti que era hora de transformar minha prática, que até então era mais dedicada ao lado físico do yoga.
Nos primeiros seis anos de prática, relutei em mudar. Era como se eu vivesse duas vidas: uma, a minha vida pessoal e profissional, cercada de amigos, festas, romances e muita balada. Outra, a de aspirante a yogui, freqüentando cursos e workshops e praticando, no mínimo, três vezes por semana. Mas a vida que prevalecia era a outra, uma vida de excessos.
Costumava até me vangloriar de ser uma pessoa voraz, de pecar sempre por mais. De ser apaixonada e obsessiva. De viver como se fosse o último dia.
De dar-me exageradamente e exigir reciprocidade.
Hoje vejo o quanto deve ter sido difícil conviver comigo numa relação amorosa. Porque, no fundo, eu procurava nos outros aquilo que era incompleto em mim. O que eu amava era a sensação de plenitude que os outros me faziam sentir, mais do que as pessoas em si... E assim, transferia as minhas expectativas para quem estava se sentindo tão incompleto quanto eu e tudo acabava em separações doloridas e desastrosas...
Só depois é que compreendi que a sensação de vazio era porque eu não sabia que o Ser é fundamentalmente completo, eterno e feliz. O que nos faz sofrer é a ilusão de que somos incompletos, ou seja, a ignorância de nosso real estado de completude. Quantas pessoas eu devo ter feito sofrer por causa da minha ignorância...
Enfim, vivi quase quarenta anos de minha vida intensamente.
Ou pelo menos, acreditava que vivia...
Lembro-me de vislumbrar uma vida mais calma, um amor tranqüilo, casa no campo, paz e estabilidade. Mas fantasiava tudo isso como se fosse uma Shangrilá que eu viveria na velhice, ou apenas em sonho mesmo. Fantasia. Como se fosse o meu idílio...
Aos quarenta anos, encontrei o homem com quem espero passar o resto da minha vida. E pela primeira vez, não foi um encontro passional, fundado apenas no desejo e em expectativas.
Foi um encontro maduro, de duas pessoas que já viveram outras relações e que, mais maduros, apostaram no companheirismo, na parceria. E junto com este amor tranqüilo, veio a paz e a possibilidade de uma mudança substancial de valores. Tudo muito natural, muito simples...
Nunca pensei que o amor pudesse ser simples. Simples como a vida... Como a natureza, como o universo. Passei a me espelhar na quietude da natureza, na sua equanimidade, e a cada dia, sentia-me mais firme, mais equilibrada e, principalmente, com o olhar mais generoso em relação a tudo.
O mar revolto que eu era, foi se transformando em um córrego tranqüilo.
E tudo que eu buscava avidamente, tudo que eu imaginava sólido, desmanchou-se no ar. Pessoas que sempre tive como garantidas foram ficando distantes, assim como antigos projetos, antigos lugares e hábitos.
Tudo foi ficando para trás de forma muito natural. No entanto, ainda me assusto quando me pego deslocada no meio daquilo que me era tão familiar. Como se uma parte de mim estivesse morrendo. E certamente está. Tudo está morrendo o tempo todo, tudo está passando. Este momento está passando, esta é uma das poucas certezas que temos, da impermanência das coisas.
Minha atitude antiga seria a de não querer deixar ir, de fazer tudo pra não perder o que já tinha conquistado. De querer prender ou retomar pessoas, hábitos, convicções.
Mas desta vez, agi como um observador, que percebe todo o movimento sem se deixar envolver por ele. Não julga, apenas observa e respeita.
E, principalmente, confia. Porque a intuição diz que esta deve ser a atitude a ser tomada. Faça o que deve ser feito, me diz a intuição. E eu me rendo. Entrego e confio, sabendo que eu escolhi ou fui escolhida para fazer parte da viagem mais exuberante que alguém pode fazer: para dentro de si mesmo!
Namaste...