segunda-feira, 1 de junho de 2009

Do desapego

 

 


 

Desde que resolvi me aprofundar na prática do  yoga, sinto que venho me desapegando de hábitos, lugares, pessoas, coisas que faziam parte da minha vida. Ou talvez este distanciamento já vinha acontecendo e foi por causa disto que senti que era hora de transformar minha prática, que até então era mais dedicada ao lado físico do yoga.

Nos primeiros seis anos de prática, relutei em mudar. Era como se eu vivesse duas vidas: uma, a minha vida pessoal e profissional, cercada de amigos, festas, romances e muita balada. Outra, a de aspirante a yogui, freqüentando cursos e workshops e praticando, no mínimo, três vezes por semana. Mas a vida que prevalecia era a outra, uma vida de excessos.

Costumava até me vangloriar de ser uma pessoa voraz, de pecar sempre por mais. De ser apaixonada e obsessiva. De viver como se fosse o último dia.

De dar-me exageradamente e exigir reciprocidade.

Hoje vejo o quanto deve ter sido difícil conviver comigo numa relação amorosa. Porque, no fundo, eu procurava nos outros aquilo que era incompleto em mim. O que eu amava era a sensação de plenitude que os outros me faziam sentir, mais do que as pessoas em si... E assim, transferia as minhas expectativas para quem estava se sentindo tão incompleto quanto eu e tudo acabava em separações doloridas e desastrosas...

Só depois é que compreendi que a sensação de vazio era porque eu não sabia que o Ser é fundamentalmente completo, eterno e feliz. O que nos faz sofrer é a ilusão de que somos incompletos, ou seja, a ignorância de nosso real estado de completude. Quantas pessoas eu devo ter feito sofrer por causa da minha ignorância...

Enfim, vivi quase quarenta anos de minha vida intensamente.

Ou pelo menos, acreditava que vivia...

Lembro-me de vislumbrar uma vida mais calma, um amor tranqüilo, casa no campo, paz e estabilidade. Mas fantasiava tudo isso como se fosse uma Shangrilá que eu viveria na velhice, ou apenas em sonho mesmo. Fantasia. Como se fosse o meu idílio...

Aos quarenta anos, encontrei o homem com quem espero passar o resto da minha vida. E pela primeira vez, não foi um encontro passional, fundado apenas no desejo e em expectativas.

Foi um encontro maduro, de duas pessoas que já viveram outras relações e que, mais maduros, apostaram no companheirismo, na parceria. E junto com este amor tranqüilo, veio a paz e a possibilidade de uma mudança substancial de valores. Tudo muito natural, muito simples...

Nunca pensei que o amor pudesse ser simples. Simples como a vida... Como a natureza, como o universo. Passei a me espelhar na quietude da natureza, na sua equanimidade, e a cada dia, sentia-me mais firme, mais equilibrada e, principalmente, com o olhar mais generoso em relação a tudo.

O mar revolto que eu era, foi se transformando em um córrego tranqüilo.

E tudo que eu buscava avidamente, tudo que eu imaginava sólido, desmanchou-se no ar. Pessoas que sempre tive como garantidas foram ficando distantes, assim como antigos projetos, antigos lugares e hábitos.

Tudo foi ficando para trás de forma muito natural. No entanto, ainda me assusto quando me pego deslocada no meio daquilo que me era tão familiar. Como se uma parte de mim estivesse morrendo. E certamente está. Tudo está morrendo o tempo todo, tudo está passando. Este momento está passando, esta é uma das poucas certezas que temos, da impermanência das coisas.

Minha atitude antiga seria a de não querer deixar ir, de fazer tudo pra não perder o que já tinha conquistado. De querer prender ou retomar pessoas, hábitos, convicções.

Mas desta vez, agi como um observador, que percebe todo o movimento sem se deixar envolver por ele. Não julga, apenas observa e respeita.

E, principalmente, confia. Porque a intuição diz que esta deve ser a atitude a ser tomada. Faça o que deve ser feito, me diz a intuição. E eu me rendo. Entrego e confio, sabendo que eu escolhi ou fui escolhida para fazer parte da viagem mais exuberante que alguém pode fazer: para dentro de si mesmo!

Namaste...

 


2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Lindo texto, me identifiquei totalmente! Como você, eu também, depois dos quarenta anos, a cada dia aprecio mais a simplicidade e a quietude.
    Namaste!
    Rosana Palermo Schweter (amiga de sua prima Cynthia)

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